Marlene, uma mulher que carrega consigo a força e determinação de uma família numerosa. Entre nove irmãos, ela se destaca como a terceira geração, trazendo consigo o legado de perseverança e superação. Desde tenra idade, seus pais a guiaram por caminhos desafiadores, buscando sempre melhores oportunidades.

A cidade de Porto Nacional, às margens do imponente rio Tocantins, foi o berço de sua infância. Lá, agricultores, pescadores e trabalhadores do transporte de cargas se uniam em uma comunidade vibrante. Além disso, a região era conhecida pela rica extração de ouro, atraindo mineradores em busca de verdadeiros tesouros. Seu pai, um habilidoso ourives, decidiu se aventurar em Porto Nacional, em busca de um futuro promissor para sua família. A cidade também oferecia um bom colégio de freiras, onde Marlene e seus irmãos receberam uma educação fundamental sólida. Desde cedo, ela se destacava como uma aluna brilhante, sempre disposta a auxiliar seus irmãos mais novos nas tarefas e lições de casa.

Na década de 60, a família sentiu os reflexos da crise mundial e decidiu buscar novos horizontes em uma cidade maior, onde os filhos pudessem receber uma educação ampla e oportunidades de crescimento. Foi nesse contexto que o governo de Juscelino Kubitschek anunciou a construção de Brasília, a nova capital do Brasil. Seu pai, Joaquim, vislumbrou nesse projeto grandioso possibilidades de crescimento profissional para ele e seus filhos. Decidiram, então, se estabelecer em Brasília. Porém, os sonhos e planos foram tragicamente interrompidos quando, durante a visita de Dona Clotildes à nova moradia, Joaquim foi vítima de um acidente fatal. A morte repentina abalou a família e frustrou os planos de construir uma nova vida na capital do país.

Apesar das adversidades, a família persistiu e encontrou em Goiânia, capital do estado de Goiás, um novo lar. Lá, Marlene completou seus estudos e se formou como educadora. Sua vocação a levou a atuar como professora, supervisora e diretora em órgãos educacionais, deixando sua marca no desenvolvimento de muitos jovens. Foi em Goiânia que ela conheceu e se casou com Antônio Martins Vieira, com quem teve três filhos: Wilton, Paulo Sérgio e Marcelo.

Após 18 anos de casamento, Marlene enfrentou uma separação dolorosa de Antônio, o amor de sua vida. A infância marcada por momentos difíceis e os problemas psicológicos dele, que o levavam a hábitos de beber e desentendimentos com o filho Paulo, contribuíram para a decisão. Após se aposentar pela Secretaria de Educação, Marlene encontrou na confecção uma nova forma de expressão, produzindo roupas infantis para venda e doação a famílias carentes. Mesmo com recursos limitados, ela frequentemente doava as peças a quem não podia pagar, demonstrando seu coração generoso.

Marlene foi uma presença constante na vida de seus netos, especialmente dos filhos de seu primogênito Paulo Sérgio. Wilton Paulo se tornou o primeiro médico da família, enquanto Paulo Sérgio Júnior se destacou como o primeiro engenheiro-agrônomo. Marlene ofereceu aos netos o apoio e suporte que não teve a oportunidade de dar a seus próprios filhos.

Com o tempo, seu filho mais novo, Marcelo, e seu neto, Arthur, passaram a morar com ela em seu apartamento. No entanto, a vida reservou um novo desafio quando Marlene foi diagnosticada com a Doença de Alzheimer, uma forma comum de demência neurodegenerativa. Mesmo enfrentando essa difícil condição, Marlene recebe um cuidado atento de seu filho Marcelo, e Paulo, seu filho mais velho, retornou da Inglaterra com sua esposa Joana para oferecer suporte emocional e uma qualidade de vida digna.

Hoje, Marlene continua sua jornada com determinação, cercada por cuidados médicos, farmacêuticos, momentos agradáveis na academia e passeios estimulantes. Sua vida é enriquecida pelas visitas carinhosas de suas irmãs Marilda, Marluce e Miralda, e ela tem ao seu lado alguém bem-humorado e afetuoso.

Marlene é uma verdadeira vencedora, sempre dando o melhor de si dentro de suas condições. Mesmo após mais de 20 anos desde o diagnóstico de Alzheimer, ela continua a enfrentar cada dia com coragem e determinação, com o apoio incondicional de sua família. Sua história é um testemunho inspirador de resiliência e amor, e certamente muitos anos ainda virão, graças à força incansável dela e daqueles que a rodeiam.